Inscrições versus participação no Curso Corpo, saúde, sexualidades

Após a análise de algumas relações de intermultimidialidade estabelecidas pelos/as participantes do Curso Corpo, saúde, sexualidades, entendo ser importante discutir a discrepância entre a quantidade de pessoas inscritas no curso e as que, de fato, participaram das atividades. Quando comecei a divulgação do curso, disponibilizei 50 vagas, as quais foram preenchidas no mesmo dia do início da divulgação, conforme descrito no capítulo anterior, tendo sido ampliadas para 70 vagas, que se esgotaram novamente, antes mesmo da nova divulgação. Este fato pode ser compreendido como um indicativo de interesse do público para o qual o curso estava voltado: licenciandas e licenciandos da UFLA.

Contudo, depois de inseridas nos grupos secretos do Facebook, apenas 22 pessoas realizaram atividades, mas de modo espaçado, e somente oito pessoas terminaram o curso, tendo feito as atividades de modo satisfatório. Ocorre, então, uma contraposição entre o que era esperado e o que aconteceu na realidade. Essa mesma quebra de expectativa aconteceu com Claudia Almeida Rodrigues Murta (2016), que pesquisou sobre os processos de interação no Facebook, em grupos secreto, fechado e público, de docentes e discentes dos cursos de Letras de três universidades brasileiras.

Era esperado que houvesse mais interação nos grupos secreto e fechado, devido à suposta afinidade entre as pessoas participantes. Contudo, o que mais aconteceu foram visualizações e curtidas, em vez de postagens e diálogos, o que levou a pesquisadora à perspectiva de “que os laços estabelecidos nesses grupos são dinâmicos e mudam conforme as interações estabelecidas e as apropriações que os grupos fazem da rede ao longo do tempo. De acordo com as ações e reações dos membros dos grupos, laços de diferentes naturezas podem ser constituídos” (MURTA, 2016, p. 224). Por isso, notar outras realidades semelhantes a minha, levou-me a pensar sobre quais seriam os motivos para a pouca participação.

Assim, levantei hipóteses relacionadas à falta de tempo e ao desinteresse dos/as inscritos/as, sobretudo porque o curso coincidiu com o término do período letivo da UFLA quando, geralmente, os/as alunos/as têm uma carga maior de atividades. E, como o Curso Corpo, saúde, sexualidades não era uma atividade obrigatória, acabou sendo relegado a segundo plano. Porém, há que se considerar, ainda, outra possibilidade, que concebo ser a mais pertinente: acostumados/as que estavam/estão com as metodologias tradicionais de ensino, as/os participantes não estavam preparados para conhecer e trabalhar com uma nova metodologia que exige empenho, criatividade e iniciativa das/os participantes.

A meu ver, a pouca participação efetiva não desqualifica a proposta de metodologia do curso, mas, ao contrário, indica que ainda é necessário muito trabalho para mudar os paradigmas atuais ainda arraigados na educação. Esse é, portanto, um indício de que as pesquisas que discutem novos fazeres pedagógicos estão no caminho certo, em busca de novas concepções de ensino, justamente o que tentei apresentar ao longo desta pesquisa.

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