Tessitura 4

Tessitura 4: Plágio e ideologia versus identidade de gênero

A Atividade 2.1 consistia na criação de um texto multicolorido, o qual deveria ser composto coletivamente, com uma discussão sobre a diferença entre ideologia e identidade de gênero. Como Roxo não conseguiu fazer a atividade no prazo, realizou a seguinte postagem, algum tempo depois, com um texto e um vídeo[1]:

A ideologia de gênero ou a “ideologia da ausência de gênero”, como também ficou conhecida, é a ideia de que a sexualidade humana seja parte de “construções sociais e culturais” e não um fator biológico.
De acordo com esta ideologia, os seres humanos nasceriam “neutros” e poderiam, ao longo da vida, escolher o seu gênero sexual.
Outra característica da ideologia de gênero é a multiplicidade dos gêneros, ou seja, a existência de vários gêneros sexuais mais complexos, além do masculino e feminino.
Os seres humanos estariam disponíveis para assumir a identidade de gênero que mais se identificam.

Contudo, suspeitei que o texto não era de Roxo e realizei uma pesquisa na internet, encontrando a origem[2]. Vendo que se tratava de cópia literal, fiz o seguinte comentário, como resposta, sem, contudo, ter retorno de Roxo:

Agradeço por você ter trazido outros vídeos para a nossa discussão. Eles são muito importantes para conhecermos outros pontos de vista. Com relação ao seu texto, por favor, identifique as fontes de onde você o tirou e tente, em atividades futuras, ler referências, mas compor o seu próprio texto. E faltou você dizer para nós o que você achou os vídeos e do que leu sobre o tema…

Nota-se, portanto, nesse caso, a ocorrência de um tipo de intertextualidade implícita conhecida como plágio (KOCH; BENTES; CAVALCANTE, 2008). A cópia indevida, além de ser antiética e ilegal, parece sugerir falta de atenção e de empenho em realizar a atividade, já que a simples reprodução de algo já pronto é mais fácil do que a criação de um texto novo, articulado com outros e, portanto, mais rico para a discussão. Assim, ao contrário da tessitura anterior, Roxo não demonstrou posicionamento, pelo contrário, sua postura acabou indicando uma perda de oportunidade em expor seu ponto de vista. Fato corroborado pela sugestão do um vídeo, o qual acabou ficando descontextualizado, porque Roxo não o problematizou ou relacionou com o que escreveu/copiou.

A cópia tornou-se, então, um entrave para discussões e para que as/os participantes do curso pudessem ter acesso ao ponto de vista de Roxo sobre o assunto. “Criar é resistir!”, conforme lembra Cláudia Ribeiro (2008, p. 11), a qual ainda acrescenta:

No processo de formação de educadores e educadoras, joga-se um jogo decisivo: disseminar possibilidades de ressignificar os significados e os sentidos dominantes – a heteronormatividade, as relações de gênero, a produção de saberes sobre sexualidade, sobre infância, sobre direitos, dentre tantos outros temas. (RIBEIRO, 2009, p. 3).

Ao copiar, Roxo abriu mão da possibilidade de elaborar significados e discutir as diferenças entre ideologia e identidade de gênero. Perdeu, portanto, assim como as/os outras/os participantes, a oportunidade de refletir que

[…] as identidades sexuais e de gênero estão profundamente inter-relacionadas, por discursos e práticas que frequentemente as confundem. […] Elas estarão sempre se constituindo, sempre em transformação. Assim, não haveria uma única identidade, mas identidades plurais, com múltiplas formas de masculinidades e feminilidades, múltiplas heterossexualidades e homossexualidades. (CASTRO, 2012, p. 149).

Tal discussão seria profícua para o trabalho que foi proposto para o Curso Corpo, saúde, sexualidades, tendo em vista a necessidade de uma caminhada, partindo da compreensão dos conceitos de corpo e de saúde até se chegar às discussões sobre as relações de gêneros e sexualidades e como essas são constituídas com base em muitos discursos, conforme defende Michel Foucault (2014, p. 77): “a história da sexualidade […] deve ser feita, antes de mais nada, do ponto de vista de uma história dos discursos”. O que me leva a questionar: a escolha por copiar não seria também um discurso, nesse caso, de omissão? E quais implicações essa postura pode gerar, como permitir que violências continuem acontecendo?

 

[1] Luis Felipe Pondé Fala sobre ideologia de Gênero. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=KtjXD2PbHTc.  Acesso em: 3 jun. 2017.

[2] Disponível em: https://www.significados.com.br/ideologia/. Acesso em: 1 jun. 2017.

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