Tessitura 2

Tessitura 2: Entrevista O espelho é a nova submissão feminina e postagem Mulher é…

Ainda no contexto sobre corpo, Vermelho criou uma nova postagem, em que questionou: “E por falar em CORPO e aproveitando a semana do Dia Internacional da Mulher, o que dizer da ditadura da beleza? “O espelho é a nova submissão feminina” – Mary Del Priore”, fazendo referência a uma entrevista concedida pela historiadora a uma revista (JORDÃO, 2010). Apesar de Vermelho não ter disponibilizado o link com a entrevista, o comentário gerou discussões, as quais foram motivadas por mim, com o seguinte post: “Excelente ideia para discutirmos. Tanto o que motivou a criação desse dia, passando pelo lento avanço mesmo diante de tanta luta, quanto pela inversão de conceitos em relação ao que buscamos! Vamos discutir, Purpurinas?!”.

Em seguida, Laranja respondeu à postagem:

Somos massacradas o tempo todo pela mídia e pelo “padrão” social. Somos ora exaltadas e ora diminuídas por esse “espelho”. Podemos ainda atrelar essa discussão a SAÚDE, quantas de nós e quantas vezes, já nos submetemos a diversos procedimentos ? Dietas loucas? Modificamos nossos CORPOs e fragilizamos nossa SAÚDE.

Eu, então, fiz a seguinte sugestão: “Motivada pelo que você propôs, sugiro que discutamos como a mulher está sendo “homenageada” no dia de hoje. Compartilhem postagens de Face, Whats, Twitter, Instagram ou outras redes sociais ou outros tipos de homenagens, para que possamos problematizar essa questão…”

A resposta veio de Laranja, que postou a imagem a seguir, acompanhada do texto: “Essa me chamou muito a atenção! A Tentativa de naturalizar. Já nascemos para:”

Figura 39 – Intermultimidialidade realizada na Atividade 1.1

Sobre essa postagem, fiz o seguinte comentário: “Ótimas contribuições! O humor como recurso que perpetua os preconceitos e discriminações, como se ser engraçado fosse uma desculpa para poder ofender. Isso acontece não apenas com as mulheres, mas com vários grupos preteridos socialmente.” As discussões não continuaram, mas a entrevista proposta por Vermelho e a imagem postada por Laranja permitiram leituras que podem ser feitas a partir de diferentes artefatos multimídias.

Selecionei como recorte o que foi escrito por Vermelho: “E por falar em CORPO e aproveitando a semana do Dia Internacional da Mulher, o que dizer da ditadura da beleza?”, que pode estabelecer uma relação de intertextualidade com o seguinte trecho da entrevista:

O corpo se tornou fonte inesgotável de ansiedade e frustração. Diferentemente de nossas avós, não nos preocupamos mais em salvar nossas almas, mas em salvar nossos corpos da rejeição social. Nosso tormento não é o fogo do inferno, mas a balança e o espelho. É uma nova forma de submissão feminina. (JORDÃO, 2010, s.p.).

Ao estabelecer intertextualidades temática e explícita, Vermelho demonstrou claramente a sua postura, por meio da indagação que faz ao grupo. Além disso, pode-se depreender que há também intertextualidade tipológica (KOCH; BENTES; CAVALCANTE, 2008), pois tanto a entrevista quanto a postagem contém posicionamento argumentativo. Postura essa que é complementada pela portagem de Laranja, a qual demonstra o seu descontentamento com uma imagem compartilhada em redes sociais. Esse post, por sua vez, também estabelece com a entrevista relação de intertextualidade temática, mas agora, implícita, a qual é, também, uma intermultimidialidade, por ser um diálogo entre um texto escrito e uma imagem. Além disso, a ausência de autoria da figura indica haver a assunção de um discurso consolidado, acatado socialmente.

A apresentação da postagem para discussão demonstrou a necessidade de se discutir sobre a forma como a mulher é vista na sociedade, já que

Não basta inquirir como as mulheres podem se fazer representar mais plenamente na linguagem e na política. A crítica feminista também deve compreender como a categoria das “mulheres”, o sujeito do feminismo, é produzida e reprimida pelas mesmas estruturas de poder por intermédio das quais busca-se a emancipação. (BUTLER, 2003, p. 19).

O pensamento da autora indica como as relações de poder (FOUCAULT, 2014) interferem nas interações sociais, já há muito tempo, fazendo com que até a sexualidade seja hierarquizada, segundo Michel Foucault (2014), pois ela é “originária e historicamente burguesa e que induz, em seus deslocamentos sucessivos e em suas transposições, efeitos de classe específicos” (p. 139). Essas pré-concepções do passado ecoam ainda hoje, com a mulher sendo relegada ao papel de mãe, esposa e dona de casa, conforme demonstra a imagem apresentada que, no dia 8 de Março, foi amplamente veiculada em redes sociais.

Dessa forma, entendo que a discussão provocada por meio do Curso Corpo, saúde, sexualidades faz-se necessária, para que padrões sociais possam ser revistos, a começar pela cor da imagem, que perpetua a associação da mulher ao rosa, sendo mais um indicativo das marcas deixadas desde a ascensão da burguesia, quando

As mulheres eram responsáveis pela administração da casa e educação dos filhos. Os homens ampliavam e diversificavam suas profissões e atividades públicas. A esfera do público era tida como perigosa e amoral e a do privado, da casa, era o local dos prazeres amenos, refúgio do homem cansado e preocupado, responsável pela manutenção material do lar. O ideal burguês era de um marido que atendia às necessidades materiais da família e de uma mulher que se consagrava ao lar. Os homens eram cidadãos trabalhadores e responsáveis e as mulheres, reduzidas ao silêncio; eram esposas e mães. (RIBEIRO, 2008, p. 5).

Esse ideal da burguesia, ainda vigente, acaba por influenciar comportamentos e criar os padrões que tentam produzir “indivíduos normalizados e normatizados, articulados uns aos outros, segundo sistemas hierárquicos, sistema de valores, de submissão a ideias que são contrárias ao que se deseja” (RIBEIRO, 2008, p. 10). Esse processo gera, então, opressão e violência contra quem não aceita essas normas. Não seria, então, o primeiro passo dar-se conta disso para, em seguida, questionar o status quo dos padrões de beleza e do papel da mulher na sociedade, como fizeram Vermelho e Laranja, nessa postagem?

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