Tessitura 3

Tessitura 3: Referência a Schopenhauer e gráfico sobre saúde

Da Atividade 1.2, a qual propôs que os/as participantes elaborassem um conceito para saúde, apresenta-se uma tessitura que demonstra as intertextualidades temática e explícita, e, também, de intermultimidialidade. Verde fez a seguinte postagem:

Schopenhauer dizia que a saúde seria responsável por 90% de nossa felicidade; contudo, o mesmo admitia que felicidade fosse apenas a ausência de dor, tornando, por conseguinte, o indivíduo saudável apenas um não-doente, no sentido clínico no termo. Mediante explicação que, apesar de plausível, apresenta-se como rasa em demasia, é-nos agora coerente explicar a saúde em sua completude.
Indo para bastante além de um estado de não-doença, a saúde precisa ser interpretada como bem-estar físico e mental – admitindo desde já que dentro deste conceito não existem pessoas nem no polo extremo da saúde nem no da deficiência dela –, para ser entendida por completo. Para facilitar o entendimento elaboraremos um gráfico e aplicaremos um grupo amostral hipotético de três indivíduos neste. O gráfico representa a evolução da expectativa de saúde das personagens sob a interpretação de uma única pessoa no decorrer das descrições a seguir.
O indivíduo A apresenta um excelente estado fisiológico. Devido à boa alimentação e aos esportes, raramente contrai quaisquer tipos de doença física e não possui também qualquer doença psíquica, apresentando apenas uma alergia a pelos e penas de animais. É, basicamente, indivíduo saudável em relação ao conceito clínico do termo. Contudo, não tem família ou amigos – é bastante solitário –, trabalha 8 horas por dia em uma pequena sala isolada, a 3 horas de casa – esta que fica em local de extrema periculosidade –, sem qualquer contado humano, e, devido à alergia supracitada, não pode ter animais de estimação convencionais.
O indivíduo B vive cercado de amizades, dois cães lindos e muito carinhosos, e é muito querido pela família. Vive em uma vizinhança agradável, é muito sortudo em seus relacionamentos românticos e tem um bom emprego onde pode trabalhar quando e onde quiser desde que cumpra os resultados, que não são muito complicados. Porém, sabe que possui um tipo raro de tumor maligno desde a infância, tumor este que não pode ser tratado por meios químicos, radioativos ou cirúrgicos.
Já o indivíduo C é uma pessoa comum, só mais um entre os extremos. Possui um emprego que não lhe dá imensas alegrias, mas também não lhe suga a alma; tem alguns amigos e uma família relativamente feliz que briga de vez em quando; e mora numa vizinhança bastante diversa, com alguns vizinhos agradáveis e outros chatos. Tem rinite alérgica, como milhões de outras pessoas, alguns casos de viroses e parasitoses, mas nada de muito grave. É belo exemplo de indivíduo médio.
Os indivíduos A e B estão em situações completamente distintas, mas apresentam graus bastante parecidos de saúde. Entretanto, o indivíduo C, mais equilibrado, que não possui nada que o destaque dentro do nosso grupo de amostra hipotético, é o que apresenta a saúde mais considerável, sendo o único a terminar na metade de cima do nosso gráfico, sendo, portanto, o detentor de melhor saúde.
Os indivíduos A e B estão em situações completamente distintas, mas apresentam graus bastante parecidos de saúde. Entretanto, o indivíduo C, mais equilibrado, que não possui nada que o destaque dentro do nosso grupo de amostra hipotético, é o que apresenta a saúde mais considerável, sendo o único a terminar na metade de cima do nosso gráfico, sendo, portanto, o detentor de melhor saúde.

Figura 40 – Intermultimidialidade realizada na Atividade 1.2

O recorte que escolhi da postagem, a fim de ressignificá-lo, tendo como base a análise textual discursiva (MORAES; GALIAZZI, 2016), foi:

Schopenhauer dizia que a saúde seria responsável por 90% de nossa felicidade; contudo, o mesmo admitia que felicidade fosse apenas a ausência de dor, tornando, por conseguinte, o indivíduo saudável apenas um não-doente, no sentido clínico no termo. Mediante explicação que, apesar de plausível, apresenta-se como rasa em demasia, é-nos agora coerente explicar a saúde em sua completude. (Verde).

A intertextualidade explícita acontece quando Verde faz referência às ideias do filósofo Arthur Schopenhauer (2002), mesmo sem transcrever nenhuma citação direta, contando, então, com o conhecimento de mundo das pessoas que leem o seu texto. Além disso, Verde estabelece uma relação de intermultimidialidade, ao criar para o seu texto uma imagem que representa aquilo que a sua escrita procura transmitir, estabelecendo, assim, um diálogo entre as linguagens verbal e não verbal, cuja compreensão requer competência em multiletramento por parte de quem lê.

Além de senso de criatividade, Verde demonstra, claramente, a sua postura, ao construir um texto próprio em que elabora um conceito a partir de outras leituras, ilustrando essas ideias com um gráfico também inédito. Essa postagem requer, então, uma leitura pautada em inferências que, conforme defendem Roque Moraes e Maria do Carmo Galiazzi (2016, p. 83), geram “esforço de captar mensagens conscientes e inconscientes [que] implica um movimento de ultrapassagem de uma leitura de primeiro plano para outra de maior profundidade” (MORAES; GALIAZZI, 2016, p. 83).

Essa leitura aprofundada foi imprescindível, porque a compreensão sobre o conceito de saúde se fez necessária, no início do curso, tendo em vista os desdobramentos que se seguiriam, sobretudo para o entendimento sobre a relação entre saúde, corpo e sexualidades, já que, conforme indica Guacira Louro (2001)

As imposições de saúde, vigor, vitalidade, juventude, beleza, força são distintamente significadas, nas mais variadas culturas e são também, nas distintas culturas, diferentemente atribuídas aos corpos de homens ou de mulheres. Através de muitos processos, de cuidados físicos, exercícios, roupas, aromas, adornos, inscrevemos nos corpos marcas de identidades e, consequentemente, de diferenciação. (p. 9).

Esses cuidados têm relação direta com a forma como os corpos são vistos e compreendidos na sociedade, sobretudo porque, conforme indica Michel Foucault (2014), o sexo passou a ser discutido sob o aspecto da saúde, com os corpos sendo regulados também pela medicina. Logo, a sexualidade também passou a ser entendida como “imersa no universo de relações do meio social, que inclui civilização, mitos, costumes, síntese de experiências vivenciadas” (RIBEIRO, 1996, p. 29).

Ao discutir as relações entre corpo, saúde e sexualidades, o Curso Corpo, saúde, sexualidades buscou, por meio das intermultimidialidades, conforme a estabelecida por Verde, despertar nas/os participantes um senso crítico capaz de questionar: será que saúde é sinônimo de ter um corpo saudável? E saudável em relação a quê?

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