Tecnologias no processo educacional

As potencialidades das TDIC para discutir sobre relações de gêneros e sexualidades advêm do fato de os artefatos multimídias oferecerem possibilidades de diferentes usos sociais dessas tecnologias para obter, processar, analisar, discutir, criticar informações, ou seja, a capacidade de multiletramentos. Dessa forma, assim como se utiliza o texto para fazer intertextualidade, utiliza-se o artefato multimídia para criar a intermultimidialidade, ou seja, estabelecer relações entre múltiplos artefatos. Os artefatos serão utilizados como ferramentas para levar para sala de aula o debate, a discussão e o embasamento no trabalho com as relações de gêneros e sexualidades.

Entre os muitos materiais empíricos advindos do Curso Corpo, saúde, sexualidades, apresento o que se segue: uma das atividades foi realizada propondo uma discussão sobre as relações de gêneros. Para tanto, utilizou-se como mote a música Meninos e Meninas, composta por Renato Russo, Dado Villa-lobos e Marcelo Bonfá e interpretada pela banda Legião Urbana. Com base na música, foi pedido que as/os participantes destacassem trechos que lhes tivessem chamado atenção e pesquisassem outros textos, vídeos, músicas, imagens etc. que dialogassem com essa temática. Um dos participantes compartilhou o poema Pertencer, de Clarice Lispector, discutindo sobre como a música e o poema dialogavam. Outras/os participantes, por sua vez, estabeleceram outros diálogos.

Observa-se, contudo, que essa atividade funcionou com esse grupo, mas não necessariamente funcionaria em outras situações de formação. Isso porque as noções de intermultimidialidade – assim como de intertextualidade – dependem muito da experiência relacional com o mundo em que se está inserido e da bagagem cultural que cada pessoa carrega. Assim, na escola, o mesmo trabalho pode não funcionar em todas as turmas, porque pode ser que um tema inquiete um grupo, mas não outro. E isso vale tanto para temas como relações de gêneros e sexualidades quanto para qualquer outro assunto. Nota-se, portanto, que a necessidade de personalização do ensino nem sempre consegue ser contemplada pela forma como se tem apresentado o ensino brasileiro atualmente, o qual, muitas vezes, se assemelha a uma “padronização industrial” de formatação de alunos/as.

Ao contrário, o que se propõe para a abordagem sobre temáticas como relações de gêneros e sexualidades são atividades elaboradas de modo a atender às necessidades próprias de cada aluno/a ou turma. Assim, o conteúdo não advém apenas do que o/a professor/a quer e acha que tem que ser ensinado, mas do que a turma anseia discutir e das negociações decorrentes dessa relação entre docentes e discentes. Essa personalização não é um processo fácil de ser realizado, mas também não é impraticável. No terceiro capítulo, apresentarei algumas propostas, relacionadas ao Curso Corpo, saúde, sexualidades, para afirmar como o planejamento de uma aula pode ser alterado de acordo com as necessidades da turma.

Há ainda que se considerar que a tecnologia é a ponte para que os artefatos sejam utilizados em sala de aula, contribuindo para essa personalização por meio, por exemplo, do modelo de ensino híbrido (SUNAGA; CARVALHO, 2015). Mas é preciso lembrar que há escolas que não têm acesso à internet, ou mesmo possuam computadores. Podem, então, ser utilizados outros artefatos, como o celular, para apresentar uma música para as/os alunas/os; ou o datashow, para projetar um vídeo baixado anteriormente. E, caso não haja a tecnologia digital, podem-se inter-relacionar imagens impressas, revistas, materiais confeccionados, os mais variados, dependendo apenas da criatividade do/a professor/a.

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