Metodologia de análise do material empírico

A costura metodológica desta pesquisa utiliza o pós-estruturalismo como linha de alinhavo, buscando problematizar o uso de diferentes artefatos multimídias, sob a ótica dos multiletramentos e das relações de intermultimidialidade, que podem ser estabelecidas entre textos, imagens, vídeos, entre outros, criando possibilidades de reflexão sobre as temáticas de relações de gêneros e sexualidades. Por isso, esse enfoque constituiu o objetivo da pesquisa. Além disso, utilizaram-se diferentes procedimentos para a construção do conhecimento, entre os quais a revisão bibliográfica, o arquivamento de textos produzidos pelos/as participantes e o registro de imagens e vídeos dos encontros presenciais.

Este trabalho, por se propor a uma mudança na estrutura da forma de se pesquisar, adotou a metodologia pós-estruturalista ou pós-crítica, a qual se caracteriza, primordialmente, porque o seu desenho metodológico “não está (e nem poderia estar) fechado e decidido a priori e que não pode ser “replicado” do mesmo modo por qualquer pessoa, em qualquer tempo e lugar” (MEYER; PARAÍSO, 2014, p. 22). Dessa forma, a pesquisa com seres humanos, nesse caso com licenciandos/as, especialmente por meio de uma ferramenta tão dinâmica quanto uma rede social, envolve infinitas possibilidades de problematização, análise e produção do conhecimento, o que torna o processo ainda mais fascinante. E isso requer novos contornos metodológicos, como a que se utilizou nesta pesquisa.

Propôs, assim, uma metodologia em que estivessem imbricadas muitas formas de articulação de saberes, eliminando barreiras dicotômicas entre “teoria e prática, discurso e ‘realidade’, conhecimento e saberes do senso comum, representação e realidade” (MEYER; PARAÍSO, 2014, p. 35). A uma leitura atenta das referências teóricas, seguiu-se, então, um des/re/montar de novas possibilidades de respostas que, por sua vez, levaram a novas perguntas e novos significados. Foi preciso, ainda, descrever, relatar em detalhes e, a partir disso, questionar, interrogar aquilo que se tinha e aquilo que se buscava.

Citando Gilles Deleuze (2002), Dagmar Estermann Meyer e Marlucy Alves Paraíso (2014) ressaltam que é importante estar sempre à espreita, porque nunca se sabe de onde virá a próxima ideia. E, como abóbora que se ajeita na carroça durante o andar (MARQUES apud SCHWENGBER, 2014), como “é no voo que se aprende a voar”[1], assim também o pesquisar vai acontecendo enquanto se pesquisa. O que requer de quem pesquisa o rigor, pois não há grandes métodos que indiquem que caminho seguir, sem, contudo, ter rigidez, mas abertura e flexibilidade às mudanças necessárias ao longo da pesquisa (MEYER; PARAÍSO, 2014).

Por isso, foi preciso disposição para experimentar junto, tanto na leitura e acompanhamento das atividades feitas a distância quanto na participação do que foi produzido presencialmente, ao longo do Curso Corpo, saúde, sexualidades. Isso foi feito por meio do acompanhamento das postagens na página do curso e da observação, com registros em fotografias e vídeos, das atividades presenciais. Somar a análise das relações entre os textos, as imagens e os vídeos produzidos virtualmente com registros fotográficos feitos in loco, nos dois encontros presenciais, foi essencial, já que “as imagens, como meio de comunicação e de representação de mundos, têm um lugar central na contemporaneidade, [sendo] material importante de compreensão da experiência humana contemporânea” (SCHWENGBER, 2014, p. 267).

Essas imagens, assim como vídeos, músicas e outros textos foram o foco da análise que se segue, sendo, portanto, identificadas, analisadas e problematizadas as relações intermultimídia advindas do Curso Corpo, saúde, sexualidades. Além disso, o mesmo procedimento foi feito em relação a alguns acontecimentos do curso, bem como às avaliações diagnóstica e final, aplicadas ao longo do mesmo, e como elas geraram modificações e possibilitaram que se chegasse às considerações finais desta pesquisa.

Foi necessário, para tanto, uma metodologia que sustentasse a análise das produções advindas do curso e, ao mesmo tempo, dialogasse com o referencial pós-estruturalista com que teci esta pesquisa. Para tanto, escolhi fazer, nas palavras de Roque Moraes (2003) “uma tempestade de luz” (p. 192), por meio da análise textual discursiva, também denominada por esse autor como análise textual qualitativa, um processo de análise que se situa entre a abordagem textual e a discursiva e

consiste em criar as condições de formação dessa tempestade em que, emergindo do meio caótico e desordenado, formam-se flashes fugazes de raios de luz iluminando os fenômenos investigados, que possibilitam, por meio de um esforço de comunicação intenso, expressar novas compreensões atingidas ao longo da análise. (MORAES, 2003, p. 192).

Considerei adequada essa abordagem, pois ela pauta-se em um processo de desconstrução que, a partir das novas interpretações reconstruídas por quem pesquisa, procura, assim como afirmam Dagmar Estermann Meyer e Marlucy Alves Paraíso (2014, p. 59): “abrir mão de enfoques teóricos que priorizam o caráter explicativo e prescritivo do conhecimento para assumir enfoques que estimulam a desnaturalização e a problematização das coisas que aprendemos a tomar como dadas”.

Nesta pesquisa, nada estava dado, os sentidos foram sendo construídos a partir da ótica com que se observava o material advindo do curso, do qual selecionei algumas atividades, aqui denominadas tessituras, a fim de evidenciar como as relações de intermultimidialidade foram estabelecidas pelos/as participantes. Para tanto, utilizei os caminhos propostos pela análise textual discursiva que organiza a pesquisa em três momentos: a desconstrução textual; a análise das unidades escolhidas; e a problematização, que gera metatextos (textos que discorrem acerca de textos) sobre os recortes de análise (MORAES; GALIAZZI, 2016).

Dessa forma, no primeiro momento, o texto selecionado foi desconstruído e algumas partes dele foram separadas, para uma análise mais aprofundada. No caso desta pesquisa, o recorte foi feito a partir das relações de intermultimidialidade realizadas. Em um segundo momento, essas unidades foram identificadas a partir do referencial teórico escolhido, neste caso, a partir dos pressupostos de intertextualidade, segundo Ingedore Koch, Anna Christina Bentes e Mônica Cavalcante (2008). Assim, chegou-se ao terceiro momento, com a ressignificação dessas unidades em um contexto geral, o qual, neste trabalho, baseou-se nos estudos ligados às relações de gêneros e as sexualidades, com base em pesquisas na área (BUTLER, 2003; CASTRO, 2012; FOUCAULT, 2014; LOURO, 2016, 2012, 2001, 2000; RIBEIRO, 2014, 2010, 2009, 2008, 1996).

Os próprios estudos pós-críticos estabeleceram, então, uma relação dialógica (interdiscursiva) com a análise textual discursiva, pois esta, “mais do que um conjunto de procedimentos definidos constitui metodologia aberta, caminho para um pensamento investigativo, processo de colocar-se no movimento das verdades, participando de sua reconstrução” (MORAES; GALIAZZI, 2006, p. 119). E, para tanto, utiliza-se da linguagem, a qual “se produz, se mantém e se modifica no contexto de lutas e de disputas pelo direito de significar” (MEYER; PARAÍSO, 2014, p. 54).

Significar e ressignificar foi justamente o que pretendi fazer com o material empírico advindo desta pesquisa, inclusive, em sua apresentação final. E aqui faço uma ressalva a essa palavra. Final não no sentido de completude, término, trabalho encerrado, mas de ciclo que tem uma finalidade: propiciar o começo de muitos outros caminhos, tecidos, fios, rizomas, redes…

Nas redes, o trabalho foi disponibilizado, em forma de um site, para que possibilite esse constante movimento de (re)significações que, em minha concepção, deve ser característica primordial do conhecimento. Em consonância com a proposta inovadora pretendida para esta pesquisa, bem como porque um dos seus pilares são as tecnologias digitais; e considerando, ainda, que o regulamento do Mestrado Profissional em Educação (MPE) prevê que o trabalho de conclusão do MPE pode ser apresentado por meio de: “III. desenvolvimento de processo, de tecnologia ou de materiais aplicáveis a processos ensino-aprendizagem, apresentado na forma de relatório técnico”[2], além de ser apresentado em formato impresso, esta pesquisa foi transposta para a realidade virtual, por meio da elaboração deste site. Assim, nesta página eletrônica é possível propiciar, na prática, as relações intermultimídia, com a criação de hiperlinks entre partes do texto e delas com artefatos multimidiáticos externos ao site.

A seguir, apresento a imagem da página principal deste site:

Figura 38 – Imagem da página principal do site www.ded.ufla.br/tessituras

 

[1]   BAYEH, Mônica Raouf El. Você pode estar criando um coitadinho. É isso mesmo o que você quer? Disponível em: http://extra.globo.com/mulher/um-dedo-de-prosa/voce-pode-estar-criando-um-coitadinho-isso-mesmo-que-voce-quer-18107774.html. Acesso em: 6 ago. 2016.

[2] Regulamento do Programa de Mestrado Profissional em Educação. Disponível em: http://www.prpg.ufla.br/educacao/wp-content/uploads/2012/08/REGULAMENTO-final-2012.pdf.  Acesso em: 7 abr. 2014.

Intermultimidialidade nas discussões feitas no Curso Corpo, saúde, sexualidades ->