Cada fio tem um porquê

Entendo que a relevância desta investigação científica advém, primeiramente, de ser ela uma possibilidade de discutir sobre as temáticas relações de gêneros e sexualidades. Essa discussão, apesar de necessária no âmbito da educação e recorrente em situações da escola, ainda aparece – quando aparece – de modo tímido nos cursos de formação docente, segundo Kelly da Silva (2015). Essa realidade, inclusive, foi comprovada por meio da análise das matrizes curriculares dos cursos de licenciatura da UFLA, nos quais é rara a presença de disciplinas voltadas para o estudo das relações de gêneros e sexualidades, conforme será descrito no primeiro capítulo.

Não inserir essas temáticas na formação inicial docente acaba por reverberar consequências nas práticas pedagógicas das/os futuros professores, dificultando a abordagem do tema na escola. Quiçá quando esse tema não é censurado, haja vista a polêmica, ocorrida em 2014, sobre incluir ou retirar os termos gênero e sexualidades dos planos nacional, estaduais e municipais de educação[1].

Acrescenta-se a esse fato a discussão que, recentemente vislumbrou-se, acerca da Reforma do Ensino Médio[2], aprovada por Medida Provisória, em fevereiro de 2017, que retirou a obrigatoriedade de disciplinas como Educação Física, Artes, Sociologia e Filosofia durante os três anos do Ensino Médio. Entendo, todavia, que tais conteúdos poderiam ser utilizados para se problematizar questões acerca de relações de gêneros e sexualidades, o que, parece, não fora considerado pelo referido ordenamento jurídico.

Visando fazer frente a situações como essas, o que pretendo, com esta pesquisa e por meio de um curso de extensão conforme o que propus, é contribuir para ampliar as discussões que já vêm sendo feitas nas licenciaturas da UFLA, conforme demonstro com a análise das matrizes curriculares dos cursos, no primeiro capítulo. E a questão extrapola o meio acadêmico: é uma dívida histórica do Brasil, que acabou por relegar à invisibilidade os direitos da mulher, das pessoas LGBTQ+ e de tantos outros sujeitos que deveriam ser vistos e respeitados como tal; não apenas notados, mas compreendidos na amplitude de sua dignidade.

Portanto, é necessário lançar luz a uma temática cuja discussão apresenta constantes avanços e recuos e que, por isso, é marcada por contradições, mas que vem ganhando cada vez mais espaço público discursivo. Assim, o que se pretende, efetivamente, com esse exame acadêmico, é potencializar a visibilidade, a discussão e a análise da problemática que ora se impõe. Ressalta-se, nesse contexto, que não basta que a temática apenas conste em currículos, seja da educação básica seja do ensino superior. É importante que diferentes disciplinas tratem sobre relações de gêneros e sexualidades e discutam aspectos da realidade dos/as alunos/as, promovendo uma formação crítica e mais cidadã (SILVA, 2015).

Justifica-se, ainda, a pertinência da pesquisa por ela tratar do uso das TDIC, tão corriqueiras no cotidiano, mas ainda subutilizadas no processo educacional (MORAN, 2011). Exemplos disso são as redes sociais que, com as múltiplas ferramentas de interação que oferecem, são um recurso que já deveria ser mais explorado na escola, tendo em vista ser parte da realidade atual. Entre essas ferramentas de interação, escolheu-se para o curso o Facebook, devido as suas potencialidades aplicáveis ao processo de ensino-aprendizagem, conforme será descrito no segundo capítulo.

Além disso, reuniram-se referenciais teóricos ligados às sexualidades, à linguística e às tecnologias, buscando demonstrar como a interseção entre elas pode contribuir para a educação. E, ainda, como as teorizações e análises propostas pretendem lançar novos olhares para a forma como se pensam os processos educativos. Por isso, esta investigação poderá servir de fonte de consulta para futuras pesquisas.

 

[1] EMPRESA BRASIL DE COMUNICAÇÃO. Entenda a polêmica sobre a discussão de gênero nos planos de educação. 2016. Disponível em: http://www.ebc.com.br/educacao/2015/07/entenda-por-que-e-importante-discutir-igualdade-de-genero-nas-escolas. Portal Ebc. Acesso em: 28 fev. 2017.

[2] ROSSI, Marina. Reforma do Ensino Médio é aprovada no Senado. 2017. Disponível em: http://brasil.elpais.com/brasil/2016/12/14/politica/1481746019_681948.html. Acesso em: 28 fev. 2017.

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