Facebook como ferramenta pedagógica e o ensino híbrido

A execução do curso foi efetivada por meio da plataforma Facebook, uma rede social que foi criada em 2003 por Mark Zuckerberg, estudante da Universidade de Harvard, com o objetivo de propiciar a comunicação entre os/as estudantes desse centro acadêmico (CORREIA; MOREIRA, 2014). O serviço, que começou com 1.500 participantes, teve sucessivas expansões, até ser acessado, atualmente, por quase dois bilhões de pessoas[1]. A página permite que pessoas que se conhecem possam estabelecer uma rede, compartilhando perfis, experiências, mensagens, imagens, vídeos, entre outros.

Assim, a escolha por esse artefato digital, como plataforma para as atividades virtuais do Curso Corpo, saúde, sexualidades, adveio do fato de essa rede ter por características principais a interação e ser parte da realidade atual. Isso acontece porque, “(…) de forma rápida e dinâmica, toda e qualquer informação pode ser compartilhada em sites de redes sociais, tornando possível que outros usuários tenham a oportunidade de visualizá-las e de comentá-las” (COUTO JUNIOR, 2012, p. 105).

Além disso, a escolha pelo Facebook também esteve ligada à necessidade de formação dos/as futuros professores, em relação às tecnologias, já que:

Ressignificar os processos de ensino-aprendizagem hoje vai além da implementação das mídias digitais nas instituições educacionais, mas inclui a necessidade de uma política de formação de professores que se comprometa a discutir a relação dos jovens com as redes sociais da internet. Isso possibilitaria refletir sobre as contribuições da dinâmica da cultura digital na educação, como a interação, a colaboração em/na rede. (COUTO JUNIOR, 2012, p. 136).

Nessa direção, o Curso Corpo, saúde, sexualidades permitiu, não apenas a formação docente no que concerne às relações de gêneros e sexualidades, mas também, por meio da prática com o uso das redes sociais, que os/as futuros professores/as pudessem ter contato com mais uma ferramenta de ensino. E, mais ainda, isso feito a partir de um novo modelo de ensino-aprendizagem, o qual está começando a ganhar corpo no Brasil: o ensino híbrido, que, segundo Alexsandro Sunaga e Camila Sanches de Carvalho (2015, p. 144), é “um programa de educação formal no qual o aluno aprende pelo menos em parte por meio do ensino on-line, com algum elemento de controle do estudante sobre o tempo, lugar, modo e/ou ritmo do estudo, e em parte uma localidade física supervisionada, fora de sua residência”.

Dessa forma, o ensino híbrido não é apenas a realização de um curso em parte presencial e em parte a distância, ao que se denomina misto ou semipresencial, mas a exponenciação desse modelo, que busca tornar o/a aluno/a ativo no processo de ensino-aprendizagem:

O ensino híbrido vem ao encontro das necessidades recentes de descobrir a melhor prática educativa para professores e escolas. Trata-se de um modelo de ensino que pressupõe o uso da tecnologia para o desenvolvimento das atividades dentro e fora da classe, em que o aluno é estimulado a buscar o conhecimento com a mediação do professor e da escola. (SILVA; CAMARGO, 2015, p. 181)

O que Rodrigo Abrantes da Silva e Ailton Luiz Camargo (2015) apontam é que a diferença em relação à educação a distância (EAD) tradicional está no fato de que o foco deixa de ser a transmissão do conhecimento pelo/a professor/a e o/a aluno/a estuda em diferentes situações, ficando a sala de aula apenas como espaço para tirar dúvidas em relação ao que já foi estudado e discutido com colegas e professores/as antes.

O ensino híbrido mostra-se, portanto, ainda distante do modelo comumente adotado no Brasil, em que

é marcante o destaque para o seu caráter classificatório nivelado de cima para baixo pelo vestibular. Entretanto, a escola não pode ignorar sua função formativa e cultural diante do esgotamento do sistema de ensino, e os inúmeros problemas decorrentes dele refletem a urgência de que docentes, gestores e poder público repensem a realidade da educação atual. (SILVA; CAMARGO, 2015, p. 181).

Esses autores defendem uma postura com a qual esta pesquisa coaduna, por entender-se que a educação, segundo os moldes tradicionais atuais, tende a dar lugar a novas práticas pedagógicas. E, enquanto não se procurar entender mais demoradamente os contextos sociais dos/as alunos/as, deixando que essa realidade interfira, efetivamente, nas práticas educativas, é difícil que novas concepções de ensino sejam aplicadas na escola, em busca de tornar as metodologias de ensino mais ativas e dinâmicas. Quem concorda com isso, também, é José Manuel Moran (2011), que afiança:

Os principais obstáculos para a aprendizagem inovadora são: o currículo engessado, conteudista; a formação deficiente de professores e alunos; a cultura da aula tradicional, que leva os professores a privilegiarem o ensino, a informação e o monopólio da fala. Também são obstáculos: o excessivo número de alunos, de turmas e de matérias que muitos professores assumem e a obsessão pela preparação para o vestibular das melhores universidades, o que concentra a atenção no conteúdo provável desse exame e não na formação integral do adolescente. (MORAN, 2011, p. 45).

Esses obstáculos foram sentidos no Curso Corpo, saúde, sexualidades, pois as/os participantes não corresponderam às expectativas e aos objetivos propostos para o curso, ao que, suponho, se deve ao fato de elas/eles estarem acostumadas/os com o modelo tradicional da educação. Ou seja, a ideia geral era contribuir para a formação docente não apenas no que concerne às temáticas relações de gênero e sexualidades, mas, também, para que os/as participantes pudessem experimentar formas alternativas e dinâmicas de ensino-aprendizagem, utilizando as tecnologias e uma metodologia ativa na educação. Contudo, sobrepujado pela cultura vigente, o curso não foi percebido como uma forma de mudança de paradigma educacional. Essa discussão será tratada no capítulo 3.

 

[1] Em 31 de dezembro de 2016, era 1,86 bilhão. Fonte: Facebook anuncia aumento de lucros e usuários. Disponível em: http://www.em.com.br/app/noticia/internacional/2017/02/01/interna_internacional,844286/Facebook-anuncia-aumento-de-lucros-e-usuarios.shtml. Acesso em: 19 mar. 2017.

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