Intertextualidade/interdiscursividade e o diálogo entre textos/discursos

Essa relação advém da noção de textos que apresentam pontos semelhantes, ao que se denomina intertextualidade que, segundo Ingedore Koch, Anna Christina Bentes e Mônica Cavalcante (2008), é um conceito cunhado por Julia Kristeva, na década de 1960, para a literatura. Assim, o conceito de intertextualidade demonstra que não existe texto que não é intertextual, porque toda escrita, inclusive a acadêmica, utiliza outras fontes, ou seja, não existe um construto textual completamente inédito. Por isso, neste trabalho, utiliza-se a metáfora da tessitura, porque o tecido é feito de fios, os quais são cada autor/a lido/a, cada conhecimento de mundo, que vão se reunir e formar o tecido com o qual se envolve esta análise.

Ingedore Koch, Anna Christina Bentes e Mônica Cavalcante (2008) diferenciam dois tipos de intertextualidade: a lato sensu e a stricto sensu. Enquanto a primeira apresenta-se de modo amplo, no nível do discurso, a segunda é restrita e ocorre entre textos e enunciados. E elas ainda subdividem-se em: genérica e tipológica, no caso da lato sensu; e temática, estilística, explícita e implícita, no caso da stricto sensu.

Dessa forma, segundo as autoras, a intertextualidade genérica ocorre quando dois textos guardam semelhanças no modo como se apresentam em relação às características do gênero textual (por exemplo: conto de fadas; carta, entre outros); enquanto a intertextualidade tipológica advém de aproximações quanto às peculiaridades do tipo textual ao qual cada texto pertence (por exemplo: tipo narrativo, argumentativo, entre outros).

Por sua vez, a intertextualidade temática acontece quando dois textos partilham o mesmo tema; já a intertextualidade estilística, quando o estilo de escrita, a forma do texto, assemelha-se. A intertextualidade explícita ocorre quando há uma referência direta a um texto; enquanto a intertextualidade implícita acontece quando quem escreveu o texto conta com o conhecimento de mundo, a bagagem cultural, de quem lê (KOCH; BENTES; CAVALCANTE, 2008).

Ainda sobre esse último tipo de intertextualidade, quando, ao contrário, quem escreve utiliza-se de outros textos, mas procura ocultar a cópia de trechos ou mesmo de ideias, o que ocorre é o plágio que, segundo as autoras:

seria um tipo particular de intertextualidade implícita, com valor de captação, mas no qual, ao contrário dos demais, o produtor do texto espera (ou deseja) que o interlocutor não tenha na memória o intertexto e sua fonte (ou não venha a proceder à sua ativação), procurando, para tanto, camuflá-lo por meio de operadores de ordem linguística, em sua maioria de pequena monta (apagamentos, substituição de termos, alterações de ordem sintática, transposições, etc.). (KOCH; BENTES; CAVALCANTE, 2008, p. 31).

Esse tipo de abordagem, além de comprometer a produção intelectual, constitui-se crime de direitos autorais, tendo em vista que é roubo do que outra pessoa pensou antes. Apresentam-se essas tipologias, porque elas são utilizadas para explicar as formas como os/as participantes do curso estabeleceram as relações de intermultimidialidade ou, em uma das tessituras, como o plágio prejudicou a originalidade do que foi apresentado nas atividades.

Apresentam-se, ainda, três dimensões para o princípio da intertextualidade (VÉRON, 1980 apud KOCH; BENTES; CAVALCANTE, 2008). São elas: as relações de sentido são sempre intertextuais, dentro de um discurso específico; domínios discursivos diferentes também podem apresentar relação intertextual entre si; todo discurso advém de uma intertextualidade com discursos anônimos (manuscritos, rascunhos, primeiras versões, entre outros).

Assim, o conceito de intertextualidade se amplia para a interdiscursividade, que é o que esta pesquisa propõe a partir da análise de diferentes discursos, em diferentes linguagens: músicas que dialogam com imagens, vídeos que conversam com textos, entre outros. Esses discursos materializam-se em vídeos, imagens, sons, entre outros, o que leva à ampliação da noção de intertextualidade, para o que se denomina, ineditamente nesta pesquisa, intermultimidialidade, que são os diálogos entre os artefatos multimídias.

Essa relação sucede da noção de interdiscursividade que, segundo Jane Quintiliano Guimarães Silva (2014, s/p), advém da “concepção de que os discursos se relacionam a outros discursos. Um discurso traz, em sua constituição, outros discursos, é tecido por eles, seja pelos já ditos, em um dado lugar e momento histórico, seja por aqueles a serem ainda produzidos”. Assim, a interdiscursividade extrapola o diálogo entre textos, para chegar até as relações entre outros artefatos, como pintura, música, cinema etc.

Por isso, necessita-se, aqui, de uma distinção entre os conceitos de texto e discurso, os quais se diferenciam, pois, Segundo José Luiz Fiorin (2012),

Este é da ordem da imanência e aquele, do domínio da manifestação. (…) A manifestação é a presentificação da forma numa dada substância, o que significa que o discurso é do plano do conteúdo, enquanto o texto é do plano da expressão. Em outras palavras, este é da ordem do sensível, enquanto aquele é do domínio do inteligível. O texto é a manifestação de um discurso. Assim, o texto pressupõe logicamente o discurso, que é, por implicação, anterior a ele (p. 148).

Como, neste trabalho, não serão analisadas apenas as relações entre textos (intertextualidades), mas as relações entre artefatos multimídias (intermultimidialidade) e, portanto, entre os discursos que eles carregam (interdiscursividade), a abordagem conceitual se faz necessária. Torna-se, então, fundamental, a compreensão dos discursos veiculados pelos textos, pelas imagens, pelos vídeos e pelas músicas utilizados no Curso Corpo, saúde, sexualidade, o que será abordado com mais detalhes no terceiro capítulo.

Tecnologias no processo educacional ->